quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Capítulo 13

"Atravesso o presente de olhos vendados, mal podendo pressentir aquilo que estou vivendo...
Só mais tarde, quando a venda é retirada, percebo o que foi vivido
e compreendo o sentido do que se passou.".
(Milan Kundera - Risíveis amores)

Quando cheguei a casa fui direto e reto tomar um bom banho, tentei passar por vovó sem que ela percebesse a minha tristeza e o meu estado: olhos inchados de tanto chorar e cansada de tanto caminhar (2 horas). Mas assim que cheguei ao meu quarto, a vó Frida veio verificar o que estava acontecendo comigo: - Tu não vais comer nada? (voz suave e olhar investigativo)
- Estou sem fome! (evitando contato visual)
E ela sentou-se ao meu lado na cama: - Sei bem como é...
- Sabe? (surpresa)
- Sim, eu também já fiquei assim, confusa, indecisa, magoada...
Ela “não sabia da missa a metade” porque eu não queria incomodá-la com esse tipo de assunto, mas me pareceu que havia feito uma leitura silenciosa da minha alma: - Sabias que eu quase casei com outro homem antes do teu avô Alfredo?
- Capaaaz? (de boca aberta)
- Sim, é uma longa história, quer ouvir? (segurando a minha mão)
Balanço a cabeça na vertical: - Alfredo, não foi o meu primeiro namorado. Eu me apaixonei antes por um rapaz muito rico, de família tradicional lá de Pelotas que proibiram o nosso namoro quando descobriram que eu era de família humilde. Depois que acatou as ordens da sua família, pediu que eu esperasse por ele porque iria convencê-los de casar comigo, mas ao invés dele voltar pra mim, o mandaram pra Europa estudar, bem longe de mim. E finalmente depois de um ano, eu vi que ele não voltaria mais, então o guardei numa gaveta do passado, sem rótulo algum: nem coisa boa, nem coisa ruim. (enquanto a ouvia em silêncio, minha boca ia caindo e meus olhos arregalando)
Depois de uma baita suspirada, prosseguiu: - E então, voltei a viver procurando não olhar praquela maldita gaveta, precisava voltar a viver de verdade, abrir as portas pra vida e foi quando eu conheci o teu avô. Era uma linda noite de verão, eu estava na varanda da minha casa apreciando as luzes dos vaga-lumes quando senti algo que eu nunca consegui explicar: eu senti o Destino me soprar. (levando as mãos na boca e umedecendo os olhos)
- Como assim... O Destino soprar? (intrigada)
- Eu não sei mesmo como explicar, mas naquele momento algo muito estranho aconteceu. No mesmo instante em que um forte vento soprou, só no meu rosto, avistei, bem ao longe, na estrada uma carroça parada, que mesmo depois de alguns minutos, não saiu do lugar. E no momento em que os meus pais me chamaram pra jantar, eu mostrei a carroça a eles que permaneceram também a observar. Papai achou muito estanho, em razão do horário e também do lugar (estava dentro da nossa propriedade). E foi verificar junto com os meus irmãos o que se passava naquela carroça. Eu e minha mãe ficamos a espera, aflitas. Passados mais alguns minutos a carroça começou a vir na direção da nossa casa. Nela havia um rapaz, muito bem apanhado, mas estava desmaiado. Carregaram ele pra dentro, o colocaram no sofá da sala e papai encostou em seu nariz um lenço umedecido com álcool. Nisso ele despertou com aqueles lindos olhos azuis, era o teu avô. (emocionada)
- Ai vó, não fica assim... Acho melhor parar agora, amanhã terminamos.

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