segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Capítulo 29

 
 “Não havíamos marcado hora, não havíamos marcado lugar. E, na infinita possibilidade de lugares, na infinita possibilidade de tempos, nossos tempos e nossos lugares coincidiram. E deu-se o encontro.”.
(Rubem Alves)


Chovia muito e pra minha sorte, Lucas (sempre prestativo) estava lá na frente esperando pra me levar pra casa. Era muita água caindo, os para brisas não davam conta do trabalho, visibilidade quase "zero" e o trânsito lento e caótico. Enquanto eu refletia sobre as palavras de mamãe, percebi que Lucas "enfiou o pé no freio", o sinal estava verde, a frente uma avenida com alguns carros parados no meio do cruzamento devido ao congestionamento. Nesse momento o carro foi deslizando, como manteiga em pão quente, até colidir na lateral de um dos carros parados. Bom, pra nossa sorte, sempre usamos o cinto de segurança e não tivemos ferimentos graves.
De repente uma cena me chamou a atenção e me trouxe de volta do transe, era alguém saindo pela janela do outro carro envolvido no acidente. “Aaai meeu Deus” Eu nem pude acreditar. “É o Encantado!?” Coincidência? Ahã, sei!
- Tudo bem aí, Lovinha? (com aquela voz que me acendia enquanto eu reagia como nitroglicerina) “Não, ele de novo não!” “Sim ele de novo, por favor!”
Quais são as chances de um acidente envolver duas pessoas conhecidas em veículos diferentes? E um casal se envolver no mesmo acidente em carros opostos? E um casal apaixonado, que moram em cidades diferentes se envolverem no mesmo acidente numa terceira cidade?
E assim, entrei em mais um de meus dilemas, num mergulho delirante e alucinante: Na Terra existem (+ou-) 7 bilhões de habitantes, certo? Uma pessoa conhece em toda a sua vida, em média, mil pessoas. Isso representa cerca de 1 em 1 milhão, então para cada pessoa que conheço, há 999.999 que nunca conhecerei?! Pelotas é uma cidade com, aproximadamente, 350 mil habitantes e sua frota de veículos já ultrapassa 83 mil automóveis. Só com esses dados já poderíamos responder às questões: É bem pouco provável.
Aqui se encaixaria a Lei da Atração? A Teoria da Relatividade? Ou, quem sabe, a Teoria da Probabilidade? Talvez a Lei de Murfy? Bom vamos a ciência, vamos aos fatos: Uma das mais antigas leis do universo é a Lei da Atração, que apresenta-se na natureza de diversas formas: 1ª forma: a Terra atrai os objetos para o seu núcleo; 2ª: a atração das moléculas que formam a vida das células; 3ª: a atração dos átomos que formam oceanos e pedras; 4ª forma (e a mais relevante): é a atração dos efeitos a partir das causas, ou seja, aquilo que pensamos, fazemos e dizemos muda e molda tudo que está a nossa volta. (que foi o caso)
Na física há uma explicação semelhante a esse fenômeno: entre dois corpos eletrizados existe uma força elétrica que pode ser de atração ou repulsão dependendo da carga elétrica deles. Corpos eletrizados com carga de mesmo sinal se repelem, e corpos eletrizados com carga de sinal contrário se atraem. Agora vejamos pelo seguinte modo: o vivente tenta atrair a pessoa amada e essa pode rejeitar se não o quiser. E é aí que a maioria “se encarna”: “Por que não?” “Como assim, não? Nossos corpos foram eletrizados com sinais contrários”. As interações elétricas são mais complexas do que atrair ou repelir, e nem sempre a atração rola pros dois lados em razão do “tô neutron”. Por isso é melhor guardar o magnetismo pra quem importa, mesmo que demore um pouco pra você achar a pessoa certa pra atrair.
E agora pensando na Probabilidade, na possibilidade de que alguma coisa aconteça, como por exemplo, eu encontrar com Encantado ali, naquela hora, é definida por alguns fenômenos físicos aleatórios. Eventos exclusivos, aqueles cuja ocorrência de um elimina a possibilidade de ocorrência do outro: a longa conversa com mamãe me fez demorar mais a sair (eu não saí quando estava pronta); com a demora, a chuva ficou mais forte; a forte chuva deixou o trânsito caótico; o caos no trânsito resultou no acidente; com o acidente nós nos reencontramos; com o nosso reencontro, Encantado não foi embora; Encantado ficando mais tempo em Pelotas, nós nos reconciliamos, e com tudo isso, nós nos amamos.
Para a Teoria da Relatividade, em que o tempo e o espaço são grandezas inter-relativas e o bem e o mal são funções dos tempos e dos lugares, o acidente envolveu o: "Pode ser que sim, pode ser que não..." Pode ser que Encantado viaje; pode ser que eu vá pra casa; pode ser que aconteça um acidente; pode ser que a gente se reencontre; pode ser que a gente se entenda... Como diz o nosso Lulu Santos: "Pode ser que o barco vire, também pode ser que não..." Acredito que no dia a dia, a teoria da relatividade não serve para muita coisa mesmo. Mas aí, os Einsteins, diriam que: "é a consequência da compreensão progressiva de que dois referenciais diferentes oferecem visões perfeitamente plausíveis, ainda que diferentes, de um mesmo efeito." Menos, né? Esse papo é muito complexo, então vamos sair dessa e abrir uma daquelas latinhas?
Abrindo uma daquelas latinhas, lembrei-me de uma lei menos complicada e hilária pra justificar e encaixar a razão do acidente, a Lei de Murfhy, com seu eterno otimismo e uma assertiva: "Se existe mais de uma maneira de uma tarefa ser executada e alguma dessas maneiras resultar num desastre, certamente será a maneira escolhida por alguém para executá-la", ou seja, se alguma coisa tem a mais remota chance de dar errado, certamente dará. No meu caso, eu só estava há três dias sem dormir, sentada numa daquelas cadeiras de hospital, esperando alguma alma solidária me substituir, e quando Zezinho conseguiu dispensa no quartel e eu, finalmente poderia descansar, eu fui surpreendida com um acidente; já no caso de Encantado, ele só estava a caminho de fechar um contrato muito lucrativo, mas é claro que no final, ninguém de nós reclamou dessa “falta de sorte”.
Mas a verdade é uma só: nossos caminhos se cruzaram sem planejamento algum e foi um acontecimento curioso: mesmo lugar, mesmo horário, isso só pode ser Destino, porque um mero Acaso, não justificaria tamanha coincidência!!!

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